segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

"O Rapaz de Olhos Azuis"

blueeyedboy, quem és afinal?

Apenas um homem revoltado com o mundo, com a sua própria realidade, com a mulher à qual cabia a responsabilidade de te educar e amar, com a própria aparência, com a atenção, o afecto, a sabedoria que te eram negados, apenas pelo simples facto de não seres ninguém na vida? Sou capaz de te compreender. Ninguém merece a infância que tiveste, ninguém merece a mãe à qual  inevitavelmente  não conseguias escapar.
É duro ser o irmão do meio, mas isso não te dá razão para tal ódio que nutrias pelos teus outros dois irmãos.
Mas a maldade está-te no sangue, é inevitável. A tua mãe sempre fez questão de te lembrar do quanto eras mau e insignificante, apenas por teres tirado a vida a um possível terceiro irmão, que nem sequer chegou a ter a oportunidade de sentir os aromas presentes por todo o mundo, tal como tu o fazes de momento. Ainda não percebi correctamente que dom é esse que fazes questão de referir naquilo que escreves. A capacidade que tinhas de atribuir um cheiro a cada pessoa que entrasse na tua vida, por muito curta que seja a sua presença, ou até mesmo a cada coisa, a cada situação. Será mesmo verdade? Será essa a razão desses enjoos e enxaquecas fortíssimas que te atormentam desde os teus primeiros meses de vida? Intrigas-me. Muito, confesso. Será que mereceste ‘engolir’ a vida do teu irmão, tal como a tua mãe diz, e sujeitares-te a tudo isto?
Sabes? A tua vida não passa de uma mentira. Nem sei se o que fazes é viver. Não és de todo normal. Ninguém da tua idade deveria permanecer em casa da mãe, tu não o deverias fazer. És o próprio a admitir (assim o dás a entender) que viver com aquilo à qual chamas de ‘mamã’ não é de todo fácil. Mas lá arranjaste maneira de ultrapassar e lidar com o cabo eléctrico, com os cães de porcelana que tanto te irritam, com a mão direita da tua mãe a assentar na tua cara, com a bebida vitamínica que te dava vómitos, enfim…
Acho terrível que tenhas deixado a tua mãe assumir o controlo da tua própria vida, que tenhas deixado que ela fizesse de ti aquilo que tinha idealizado como sendo o ‘filho perfeito’ e não assumir quem tu eras de verdade.
Quando o teu irmão Nigel morreu, não pensaste sequer nas consequências que isso te poderia trazer? À parte de todo o ódio que sentias por ele, de te sentires aliviado com a morte dele, agora resta-te enfrentar a realidade: o temperamento da tua mãe, que com o tempo se encontrava descontrolado, as suas mudanças de humor repentinas, a força que aparentemente uma mulher de 63 anos parecia ter. Não entendo como pudeste suportar tudo isto até hoje. Uma mulher como aquelas, não merecia sequer um filho nos braços dela, Brendan. Contribuiu seriamente para te tornares naquilo que és hoje, um adulto que vive da mentira, que se esconde frequentemente atrás de um ecrã de computador, uma página de internet, um blogue, um mero e insignificante chat.
Pois é. É através disso que adquires finalmente todo o protagonismo que te foi negado em criança e ao longo da tua vida, através de palavras cruéis capazes de tocar a alma de qualquer um. Pelo menos o grupinho que geres online, constituído por psicopatas, tarados sexuais, obesas, resumindo, gente com graves problemas mentais assim o acha. Não te faltam os comentários e elogios às tuas histórias, principalmente de ClairDeLune que anseia sempre por mais, ou do Toxic69 que parece não querer outra coisa senão os teus homicídios com um pouco de sexo à mistura. E há a Albertine, que mais tarde descobres que é Bethan, a ex-namorada do teu querido irmãozinho Nigel, a tua amiga mistério de infância, a mulher por quem acho que até tens um fraquinho. Ou será que o teu coração sempre pertenceu a Emily, à menina-prodígio que, segundo o que dizes, não passava de uma farsa? Mas na verdade, Emily está morta, e não podes continuar a achar que Emily é Bethan.  
Mas o que escreves será mesmo realidade? Ou não passa de pura ficção, daquilo que na realidade querias que acontecesse, mas que não és capaz de fazer? Afinal, és ou não um assassino? Um homem repugnante que tira vidas de maneiras completamente absurdas, só porque assim o entende? Haverá razão para tal? Deixas-me confusa. Penso que o teu objectivo é esse, passar a ideia de uma identidade que não é realmente a tua.
Eu não te conheço, blueeyedboy, mas garanto-te que estou prestes a desvendar tudo o que insistes em esconder por detrás dessas tuas palavras, que a nada mais me sabem, senão a ódio, a raiva pura de tudo e todos, e sobretudo, a raiva que tens por seres quem és.

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