segunda-feira, 30 de abril de 2012

Há uns dias dei por mim a refletir sobre coisas banais. (...)
E enquanto esperava, comecei a pensar sobre o que era esperar e na forma como esse verbo nos influencia. (...)
A verdade é que esperamos nove meses para sair da escuridão que é o ventre da nossa mãe. Esperamos que o nosso cérebro se desenvolva o suficiente para nos dar capacidade para dar os primeiros passos, dizer as primeiras palavras, rabiscar os primeiros traços no papel, escrever as primeiras letras, resolver as primeiras operações matemáticas. Esperamos até ingressar na vida escolar. Esperamos pelas primeiras amizades e inimizades. Esperamos impacientemente pelo resultado de um teste. Esperamos pela primeira paixoneta, o primeiro beijo, o primeiro namorado, a primeira lágrima de desilusão. Esperamos mais nove meses por ano pelo início do verão. Esperamos pelo autocarro. Esperamos na fila de almoço da escola. Esperamos que o dia de aulas chegue ao fim, e mais ainda pelo fim de mais um ano letivo. Esperamos pela entrada no ensino superior e pelo primeiro emprego. Esperamos durante o que nos parece uma eternidade pela pessoa certa, pela pessoa que nos dê confiança suficiente para estabilizar. E esperamos pelo derradeiro momento do pedido de casamento, da escolha do vestido e da preparação do que julgamos ser o dia mais importante das nossas vidas. Mas aí, chega a notícia de que um novo ser se forma dentro de nós, e esperamos pelo dia do nascimento do primeiro filho, esse dia sim, o mais feliz de toda a nossa existência. Um novo ciclo começa aqui, e daí em diante, esperamos todos os dias das nossas vidas, todos eles diferentes, até que o nosso dia chegue, desejando fortemente regressar atrás no tempo. Porque esperamos a nossa vida toda, e toda a nossa vida se resume a esperar.
 E afinal, acabamos por perceber que somos nós que fazemos a nossa vida, mas que, inevitavelmente, não há como fugir ao avançar do tempo, tempo esse que nos parece sempre insuficiente. Tememos demasiado, vivemos verdadeiramente pouco. Esse é o erro (aparentemente) irremediável da nossa existência e a causa da nossa infelicidade.

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